sábado, 18 de outubro de 2008

A velha história - cap. 2

Joana tinha uma vida difícil em Santiago, mas era muito melhor do que o que vivia no Brasil.
Por causa de seu corpo bonito e bem torneado, conseguiu uma vaga de dançarina numa boate.
Não era exatamente o emprego dos seus sonhos, mas pagava as contas.
Seu grupo de capoeira ainda era novo e pouco conhecido e tinha apenas meia dúzia de alunos iniciantes.
" Quando já estiverem mais graduados, vamos começar a visitar as outras academias para mostrar nosso ' jogo de dentro' e para que todos saibam quem nós somos." Joana ainda não tinha se dado conta, mas tinha os mesmos pensamentos ultrapassados de seu mestre, os mesmos pensamentos que tanto criticara e tanto a decepcionaram.
Não admitia que seu casamento havia sido de conveniência, mas a verdade é que nunca tinha sentido amor de verdade por Martín. Ele a amava e ela se aproveitou disso.
Morava no porão da casa de um aluno. Era pequeno, mas bem iluminado. Já tinha conseguido mobiliar o pequeno espaço com fotos de capoeira e troféus de campeonatos. Pendurou algumas camisetas trocadas com outros mestres. E no destaque, seu diploma de Mestre de Capoeira. Tinha lutado muito por ele, foram dias difíceis, em que teve que juntar todo o dinheiro que tinha para pagar o exame e receber a tão sonhada corda branca.
Joana dava aulas em uma sala emprestada por um professor de boxe. Não era o local ideal, mas era o único que tinha disponível. Seus alunos, mais amigos do que alunos, entendiam a situação e faziam vistas grossas para a estrutura precária. Também colaboravam comprando papel higiênico e de vez em quando, pagando a conta de luz.
No fundo, eram uma grande família, em que todos se ajudavam. O relacionamento com seu antigo mestre tinha se corroído e os dois não se entendiam mais. " Minha família está aqui, no Chile."
Ela precisou aprender a se contentar com o pouco. Sempre dizia que " para quem não tinha nada, pouco era tudo". E se orgulhava de tudo que tinha.
E de qualquer maneira, Joana tinha ido mais longe do que qualquer outra pessoa de sua família verdadeira. A maioria de seus parentes nunca saiu do interior da Bahia.
" Eles nunca tiveram coragem de se levantar e acender a luz."

Um comentário:

SÍLVIA OLIVEIRA disse...

Uia, quanta coisa nova! Demorei mas coloquei a leitura em dia! Ai... que bom que esse mundo está cheio de gente que escreve beeeem! Bjs!