quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Pouca vergonha.

Situação 1 :
Jornalista, quando ainda não era jornalista e sim uma estudante universitária, conversa com a mãe :
- Ó, fiz uma tatuagem.
- Quê? Não acredito. Tatuagem? Tsc, isso atrapalha pra caramba na hora de procurar emprego, as pessoas enxergam isso como sinal de irresponsabilidade, de rebeldia, de...sei lá, mas não gosto de tatuagem.
- Sério mãe? Então nunca faça uma. Essas coisas não saem mais, são pra sempre. Tipo filho.
- Pois é, filha. E se você se arrepender?
- Ué, aí fudeu.
- É. Aí fudeu.


Situação dois:
Jornalista com TPM volta pra casa caminhando depois de um dia de cão. Passa no supermercado e compra o jantar. Isso significa que ela tem mais uma sacola para carregar, além da enorme que leva a roupa do futebol e da sua própria bolsa. Se paciência fosse algo palpável, tocável, tangível, ela chutava, enchia de porrada e depois cuspia na cara.
Com toda aquela carga e nem um pingo de simpatia, ela pára na calçada, esperando o sinal ficar vermelho para os carros e, obviamente, verde para ela. Uma senhora também aguarda.
Duas meninas de, no máximo, 17 anos passam de mãos dadas: pareciam ser namoradas.
A senhora olha com desaprovação, vira para a jornalista e diz:
- Acho uma pouca vergonha. Duas meninas novas.
A jornalista olha para as meninas, olha para a velha estupefata e responde:
- Minha senhora, cuide da sua vida.
O sinal fecha pra uns, abre para outros e todos seguem seu rumo.


Acho um saco essa coisa de todo mundo ter uma opinião sobre a vida alheia e fazer questão de revelar. Acho o fim esse povo que se enche de razão e aponta o dedo para o outro, sem lembrar que esse dedo poderia- e deveria- estar apontado para o seu próprio c*.
O que me importa se as meninas são namoradas ou não? O que te importa se eu tenho tatuagem?
A verdadeira questão é: no que as minhas ou as suas escolhas pessoais mudam o mundo? A economia piora por causa disso? Do outro lado do planeta ou aqui do lado mesmo, uma criança passa fome por causa disso? Um idoso passa frio por causa disso? Não? Não mesmo? O mundo melhora? A economia se recupera, uma criança enche a pança e um idoso ganha um cobertor? Também não? Então que se foda.

Porque eu deixaria de fazer alguma coisa que eu quero fazer e que não fere os sentimentos nem os limites de ninguém só porque uns e outros desaprovam?
Interessante seria alguém olhar estupefato para um político corrupto, ou qualquer outro tipo de safado, apontar o dedo e dizer que acha uma pouca vergonha.
Porque se é pra tomar conta da vida alheia, que seja a de quem enche os bolsos com a nossa grana, que se acha impune, acima de tudo e todos.
Acho um saco.

Um comentário:

André Bastos disse...

Gisela, melhor post escrito falando sobre a relação eu e os outros!!! demais...
Sério merecia ser publicado em outros lugares mas os jornais não permitem palavrões, permitem outras poucas vergonhas mas palavrões não!!!