Joana tinha uma vida difícil em Santiago, mas era muito melhor do que o que vivia no Brasil.
Por causa de seu corpo bonito e bem torneado, conseguiu uma vaga de dançarina numa boate.
Não era exatamente o emprego dos seus sonhos, mas pagava as contas.
Seu grupo de capoeira ainda era novo e pouco conhecido e tinha apenas meia dúzia de alunos iniciantes.
" Quando já estiverem mais graduados, vamos começar a visitar as outras academias para mostrar nosso ' jogo de dentro' e para que todos saibam quem nós somos." Joana ainda não tinha se dado conta, mas tinha os mesmos pensamentos ultrapassados de seu mestre, os mesmos pensamentos que tanto criticara e tanto a decepcionaram.
Não admitia que seu casamento havia sido de conveniência, mas a verdade é que nunca tinha sentido amor de verdade por Martín. Ele a amava e ela se aproveitou disso.
Morava no porão da casa de um aluno. Era pequeno, mas bem iluminado. Já tinha conseguido mobiliar o pequeno espaço com fotos de capoeira e troféus de campeonatos. Pendurou algumas camisetas trocadas com outros mestres. E no destaque, seu diploma de Mestre de Capoeira. Tinha lutado muito por ele, foram dias difíceis, em que teve que juntar todo o dinheiro que tinha para pagar o exame e receber a tão sonhada corda branca.
Joana dava aulas em uma sala emprestada por um professor de boxe. Não era o local ideal, mas era o único que tinha disponível. Seus alunos, mais amigos do que alunos, entendiam a situação e faziam vistas grossas para a estrutura precária. Também colaboravam comprando papel higiênico e de vez em quando, pagando a conta de luz.
No fundo, eram uma grande família, em que todos se ajudavam. O relacionamento com seu antigo mestre tinha se corroído e os dois não se entendiam mais. " Minha família está aqui, no Chile."
Ela precisou aprender a se contentar com o pouco. Sempre dizia que " para quem não tinha nada, pouco era tudo". E se orgulhava de tudo que tinha.
E de qualquer maneira, Joana tinha ido mais longe do que qualquer outra pessoa de sua família verdadeira. A maioria de seus parentes nunca saiu do interior da Bahia.
" Eles nunca tiveram coragem de se levantar e acender a luz."
sábado, 18 de outubro de 2008
A velha história - cap. 1
Acordou cedo e ligou o computador antes mesmo de escovar os dentes. Aquela máquina já ultrapassada, que tinha recebido vários upgrades demorava alguns minutos até ficar no ponto para ser usada.
Escovou os dentes, fez um café e tirou o pijama, tentando mostrar certa tranquilidade, meio que querendo disfarçar para si mesma a ansiedade.
Finalmente o café ficou pronto e o computador também. Entrou no msn e tomou um gole de café, esperando que sua amiga aparecesse entre os on-line.
Ainda ontem as coisas haviam sido diferentes para Ester. Geralmente não entrava na internet antes das 14 horas, quando já estava no trabalho. Mas quando por acaso recebeu um email de uma amiga pedindo que entrasse no msn naquela manhã, tudo mudou.
Passou a noite pensando na amizade das duas e em todas as outras amizades que ficaram para trás, desde que saiu de Curitiba e voltou para sua cidade natal, Vitória.
E agora, quase uma década depois, havia voltado para Curitiba, mas não tinha mais como encontrar seus velhos amigos.
Por isso ficou feliz quando viu aquele email, mal podia acreditar.
E então, apareceu na tela uma mensagem pedindo que ela aceitasse outro usuário em sua lista de contatos.
" É ela", pensou. Abriu um sorriso infantil quando leu no monitor a primeira mensagem:"Hola, chica!". Era Joana.
Começaram o papo animadas, querendo marcar um reencontro, matar as saudades e colocar em dia os acontecimentos dos últimos oito anos. Mas Joana estava morando em Santiago, capital do Chile, há alguns anos. Na verdade, tempo suficiente para já misturar as palavras em português e espanhol.
Filha de baianos, Joana era uma pessoa humilde, com pouco estudo e poucas chances na vida. Perdeu a mãe quando tinha apenas 8 anos e foi criada pelo pai. Com 16 anos saiu da Bahia e foi sem rumo descendo o Brasil, até parar em Curitiba. Foi quando conheceu mestre Tomé e a capoeira.
Sua vida mudou, aprendeu a ter disciplina e logo era uma das melhores do grupo. Aquilo era sua vida e o reconhecimento que tinha dos demais integrantes alimentava seus sonhos de um dia ter seus alunos e repassar tudo o que havia aprendido com Tomé.
Por isso, quando surgiu a oportunidade de dar aulas de capoeira no Chile, ela foi. Mas era uma roubada. Passou dificuldades, passou fome, passou frio.
Mas depois que conheceu Martín, as coisas melhoraram. Casada com um chileno podia trabalhar legalmente e ter uma vida melhor. Assim foi e continua sendo. O casamento acabou, mas Joana já sabia como se virar. Finalmente tinha realizado o sonho de ter um grupo de capoeira. Não dava muita grana, mas era sua paixão. E ela fazia uns bicos para completar a renda.
- Fico feliz que esteja bem, Joana. Depois de todos esses anos sem notícias, é bom saber que deu tudo certo.
- É, ainda preciso batalhar, mas aquela mocinha que saiu da Bahia já não tem mais medo do mundo.
Joana era uma pessoa diferente. Gostava de desafiar seus medos. Tudo que a amedrontava, ela encarava. Dizia que era a única coisa que lembrava de sua mãe: " minha filha, quando tiver medo do escuro, levante-se e acenda a luz". E assim, ela ia acabando com seus medos, sempre levantando e acendendo a luz.
(continua)
Escovou os dentes, fez um café e tirou o pijama, tentando mostrar certa tranquilidade, meio que querendo disfarçar para si mesma a ansiedade.
Finalmente o café ficou pronto e o computador também. Entrou no msn e tomou um gole de café, esperando que sua amiga aparecesse entre os on-line.
Ainda ontem as coisas haviam sido diferentes para Ester. Geralmente não entrava na internet antes das 14 horas, quando já estava no trabalho. Mas quando por acaso recebeu um email de uma amiga pedindo que entrasse no msn naquela manhã, tudo mudou.
Passou a noite pensando na amizade das duas e em todas as outras amizades que ficaram para trás, desde que saiu de Curitiba e voltou para sua cidade natal, Vitória.
E agora, quase uma década depois, havia voltado para Curitiba, mas não tinha mais como encontrar seus velhos amigos.
Por isso ficou feliz quando viu aquele email, mal podia acreditar.
E então, apareceu na tela uma mensagem pedindo que ela aceitasse outro usuário em sua lista de contatos.
" É ela", pensou. Abriu um sorriso infantil quando leu no monitor a primeira mensagem:"Hola, chica!". Era Joana.
Começaram o papo animadas, querendo marcar um reencontro, matar as saudades e colocar em dia os acontecimentos dos últimos oito anos. Mas Joana estava morando em Santiago, capital do Chile, há alguns anos. Na verdade, tempo suficiente para já misturar as palavras em português e espanhol.
Filha de baianos, Joana era uma pessoa humilde, com pouco estudo e poucas chances na vida. Perdeu a mãe quando tinha apenas 8 anos e foi criada pelo pai. Com 16 anos saiu da Bahia e foi sem rumo descendo o Brasil, até parar em Curitiba. Foi quando conheceu mestre Tomé e a capoeira.
Sua vida mudou, aprendeu a ter disciplina e logo era uma das melhores do grupo. Aquilo era sua vida e o reconhecimento que tinha dos demais integrantes alimentava seus sonhos de um dia ter seus alunos e repassar tudo o que havia aprendido com Tomé.
Por isso, quando surgiu a oportunidade de dar aulas de capoeira no Chile, ela foi. Mas era uma roubada. Passou dificuldades, passou fome, passou frio.
Mas depois que conheceu Martín, as coisas melhoraram. Casada com um chileno podia trabalhar legalmente e ter uma vida melhor. Assim foi e continua sendo. O casamento acabou, mas Joana já sabia como se virar. Finalmente tinha realizado o sonho de ter um grupo de capoeira. Não dava muita grana, mas era sua paixão. E ela fazia uns bicos para completar a renda.
- Fico feliz que esteja bem, Joana. Depois de todos esses anos sem notícias, é bom saber que deu tudo certo.
- É, ainda preciso batalhar, mas aquela mocinha que saiu da Bahia já não tem mais medo do mundo.
Joana era uma pessoa diferente. Gostava de desafiar seus medos. Tudo que a amedrontava, ela encarava. Dizia que era a única coisa que lembrava de sua mãe: " minha filha, quando tiver medo do escuro, levante-se e acenda a luz". E assim, ela ia acabando com seus medos, sempre levantando e acendendo a luz.
(continua)
quinta-feira, 16 de outubro de 2008
3x0
Foi por causa de um jogo de futebol que tudo aconteceu. Ele resolveu mandar um email para ela depois que o time do seu país perdeu para o time do país dela.
Na verdade, muito já tinha acontecido de fato quando, por causa daquela partida os dois se reencontraram.
Sofia era uma carioca que morava em São Paulo. Pablo era um argentino que morava em Buenos Aires.
Se conheceram há mais de uma década pela internet, exatamente da maneira que todos dizem que não se deve conhecer as pessoas. " Eles sempre mentem a altura", " elas nunca são tão magras como nas fotos que te enviam", " os argentinos são uns nojentos, só querem mesmo saber de sexo", " as brasileiras são macumbeiras, essa aí vai te enfeitiçar".
Mas na contramão de todos os comentários muito pessimistas, Pablo e Sofia decidiram se encontrar pessoalmente.
Na época, a Argentina estava afundada numa crise sem precedentes. As coisas estavam realmente ruins para Pablo, um fotógrafo iniciante que era diariamente bombardeado pelo pai - que trabalhava na bolsa de valores - com conselhos para buscar uma profissão mais promissora. Estava cansado de tudo aquilo, mas determinado a insistir em sua vocação. Vivia sozinho em um apartamento de um quarto no bairro da Recoleta, em Buenos Aires e viajava quase todos os finais de semana para Mar del Plata, sua cidade natal, para ver sua família.
Sofia morava ainda na Cidade Maravilhosa, mais precisamente no Leblon. Estudava administração numa faculdade particular e não tinha muito interesse pelo futuro, fazia o que tinha vontade e vivia o momento. Era uma pessoa impulsiva e sincera - "até demais", dizia sua mãe. Sabia que muita gente não gostava do seu jeito e ria disso. Sabia ser fiel a si mesma.
Os dois tinham mais ou menos a mesma idade. Ele dois anos a mais.
E assim ficou decidido. Era janeiro e Pablo passaria duas semanas no Rio, na casa de Sofia.
Foram 14 dias intensos e mesmo sendo a primeira vez que estavam juntos de fato, era como se já se conhecessem há muitos anos. A sintonia era incrível. O amor era recíproco e tranqüilo, como apenas um amor antigo pode ser.
Mas as duas semanas passaram rápido e o contato, antes diário foi ficando menor, até que pararam de se falar.
" Uma dessas coisas tristes da vida", pensava Sofia toda vez que lembrava de Pablo. E toda vez que lembrava dele, uma mistura de sentimentos era o que sentia. " Mas sempre esse frio na barriga".
Sabia que não se veriam novamente, mas o tinha muito presente em sua vida. Nunca falava dele para ninguém, queria-o só para ela, queria aquela história somente na sua lembrança.
Uma vez, quatro anos depois de se encontrarem, ao voltar de uma festa, bêbada, tomou coragem e ligou para ele.
" Vai pensar que sou louca, ligar depois de tantos anos". No fundo, tinha certeza de que o número do telefone tinha mudado. Mas ligou e achou que seu coração fosse sair pela boca quando ele atendeu.
Conversaram banalidades, ela perguntou se ele a amava, ele disse que sim. Mas já estava com outra e não escondeu de Sofia a nova namorada. E ela também estava com outro. Mas Sofia sabia que era apenas mais um. " Não senti o frio na barriga", explicava para as amigas que não entendiam como ela sempre enjoava dos namorados depois de algumas semanas. " Não senti o frio na barriga", explicava para os namorados ao terminar o relacionamento.
No dia seguinte, uma ressaca. Não conseguia lembrar direito o que haviam conversado, mas pouco importava a ela. " A voz dele não mudou nadinha".
Pablo era a pessoa mais sensível que Sofia conhecia e era isso que fazia dele uma pessoa inesquecível.
Pretendentes sempre tinha aos montes, mas escolhia sempre a dedo com quem queria ficar. Depois de muito tempo buscando um traço de Pablo em outras pessoas, finalmente entendeu que precisava mudar, dar a quem realmente podia, uma chance de fazê-la feliz.
E estava se saindo muito bem. Pensava cada vez menos em Pablo, e estava casada e apaixonada por seu marido. Eram muito felizes e todos diziam que eram o casal perfeito, que haviam sido feitos um para o outro.
Até esse jogo de futebol.
Na verdade, muito já tinha acontecido de fato quando, por causa daquela partida os dois se reencontraram.
Sofia era uma carioca que morava em São Paulo. Pablo era um argentino que morava em Buenos Aires.
Se conheceram há mais de uma década pela internet, exatamente da maneira que todos dizem que não se deve conhecer as pessoas. " Eles sempre mentem a altura", " elas nunca são tão magras como nas fotos que te enviam", " os argentinos são uns nojentos, só querem mesmo saber de sexo", " as brasileiras são macumbeiras, essa aí vai te enfeitiçar".
Mas na contramão de todos os comentários muito pessimistas, Pablo e Sofia decidiram se encontrar pessoalmente.
Na época, a Argentina estava afundada numa crise sem precedentes. As coisas estavam realmente ruins para Pablo, um fotógrafo iniciante que era diariamente bombardeado pelo pai - que trabalhava na bolsa de valores - com conselhos para buscar uma profissão mais promissora. Estava cansado de tudo aquilo, mas determinado a insistir em sua vocação. Vivia sozinho em um apartamento de um quarto no bairro da Recoleta, em Buenos Aires e viajava quase todos os finais de semana para Mar del Plata, sua cidade natal, para ver sua família.
Sofia morava ainda na Cidade Maravilhosa, mais precisamente no Leblon. Estudava administração numa faculdade particular e não tinha muito interesse pelo futuro, fazia o que tinha vontade e vivia o momento. Era uma pessoa impulsiva e sincera - "até demais", dizia sua mãe. Sabia que muita gente não gostava do seu jeito e ria disso. Sabia ser fiel a si mesma.
Os dois tinham mais ou menos a mesma idade. Ele dois anos a mais.
E assim ficou decidido. Era janeiro e Pablo passaria duas semanas no Rio, na casa de Sofia.
Foram 14 dias intensos e mesmo sendo a primeira vez que estavam juntos de fato, era como se já se conhecessem há muitos anos. A sintonia era incrível. O amor era recíproco e tranqüilo, como apenas um amor antigo pode ser.
Mas as duas semanas passaram rápido e o contato, antes diário foi ficando menor, até que pararam de se falar.
" Uma dessas coisas tristes da vida", pensava Sofia toda vez que lembrava de Pablo. E toda vez que lembrava dele, uma mistura de sentimentos era o que sentia. " Mas sempre esse frio na barriga".
Sabia que não se veriam novamente, mas o tinha muito presente em sua vida. Nunca falava dele para ninguém, queria-o só para ela, queria aquela história somente na sua lembrança.
Uma vez, quatro anos depois de se encontrarem, ao voltar de uma festa, bêbada, tomou coragem e ligou para ele.
" Vai pensar que sou louca, ligar depois de tantos anos". No fundo, tinha certeza de que o número do telefone tinha mudado. Mas ligou e achou que seu coração fosse sair pela boca quando ele atendeu.
Conversaram banalidades, ela perguntou se ele a amava, ele disse que sim. Mas já estava com outra e não escondeu de Sofia a nova namorada. E ela também estava com outro. Mas Sofia sabia que era apenas mais um. " Não senti o frio na barriga", explicava para as amigas que não entendiam como ela sempre enjoava dos namorados depois de algumas semanas. " Não senti o frio na barriga", explicava para os namorados ao terminar o relacionamento.
No dia seguinte, uma ressaca. Não conseguia lembrar direito o que haviam conversado, mas pouco importava a ela. " A voz dele não mudou nadinha".
Pablo era a pessoa mais sensível que Sofia conhecia e era isso que fazia dele uma pessoa inesquecível.
Pretendentes sempre tinha aos montes, mas escolhia sempre a dedo com quem queria ficar. Depois de muito tempo buscando um traço de Pablo em outras pessoas, finalmente entendeu que precisava mudar, dar a quem realmente podia, uma chance de fazê-la feliz.
E estava se saindo muito bem. Pensava cada vez menos em Pablo, e estava casada e apaixonada por seu marido. Eram muito felizes e todos diziam que eram o casal perfeito, que haviam sido feitos um para o outro.
Até esse jogo de futebol.
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
Pouca vergonha.
Situação 1 :
Jornalista, quando ainda não era jornalista e sim uma estudante universitária, conversa com a mãe :
- Ó, fiz uma tatuagem.
- Quê? Não acredito. Tatuagem? Tsc, isso atrapalha pra caramba na hora de procurar emprego, as pessoas enxergam isso como sinal de irresponsabilidade, de rebeldia, de...sei lá, mas não gosto de tatuagem.
- Sério mãe? Então nunca faça uma. Essas coisas não saem mais, são pra sempre. Tipo filho.
- Pois é, filha. E se você se arrepender?
- Ué, aí fudeu.
- É. Aí fudeu.
Situação dois:
Jornalista com TPM volta pra casa caminhando depois de um dia de cão. Passa no supermercado e compra o jantar. Isso significa que ela tem mais uma sacola para carregar, além da enorme que leva a roupa do futebol e da sua própria bolsa. Se paciência fosse algo palpável, tocável, tangível, ela chutava, enchia de porrada e depois cuspia na cara.
Com toda aquela carga e nem um pingo de simpatia, ela pára na calçada, esperando o sinal ficar vermelho para os carros e, obviamente, verde para ela. Uma senhora também aguarda.
Duas meninas de, no máximo, 17 anos passam de mãos dadas: pareciam ser namoradas.
A senhora olha com desaprovação, vira para a jornalista e diz:
- Acho uma pouca vergonha. Duas meninas novas.
A jornalista olha para as meninas, olha para a velha estupefata e responde:
- Minha senhora, cuide da sua vida.
O sinal fecha pra uns, abre para outros e todos seguem seu rumo.
Acho um saco essa coisa de todo mundo ter uma opinião sobre a vida alheia e fazer questão de revelar. Acho o fim esse povo que se enche de razão e aponta o dedo para o outro, sem lembrar que esse dedo poderia- e deveria- estar apontado para o seu próprio c*.
O que me importa se as meninas são namoradas ou não? O que te importa se eu tenho tatuagem?
A verdadeira questão é: no que as minhas ou as suas escolhas pessoais mudam o mundo? A economia piora por causa disso? Do outro lado do planeta ou aqui do lado mesmo, uma criança passa fome por causa disso? Um idoso passa frio por causa disso? Não? Não mesmo? O mundo melhora? A economia se recupera, uma criança enche a pança e um idoso ganha um cobertor? Também não? Então que se foda.
Porque eu deixaria de fazer alguma coisa que eu quero fazer e que não fere os sentimentos nem os limites de ninguém só porque uns e outros desaprovam?
Interessante seria alguém olhar estupefato para um político corrupto, ou qualquer outro tipo de safado, apontar o dedo e dizer que acha uma pouca vergonha.
Porque se é pra tomar conta da vida alheia, que seja a de quem enche os bolsos com a nossa grana, que se acha impune, acima de tudo e todos.
Acho um saco.
Jornalista, quando ainda não era jornalista e sim uma estudante universitária, conversa com a mãe :
- Ó, fiz uma tatuagem.
- Quê? Não acredito. Tatuagem? Tsc, isso atrapalha pra caramba na hora de procurar emprego, as pessoas enxergam isso como sinal de irresponsabilidade, de rebeldia, de...sei lá, mas não gosto de tatuagem.
- Sério mãe? Então nunca faça uma. Essas coisas não saem mais, são pra sempre. Tipo filho.
- Pois é, filha. E se você se arrepender?
- Ué, aí fudeu.
- É. Aí fudeu.
Situação dois:
Jornalista com TPM volta pra casa caminhando depois de um dia de cão. Passa no supermercado e compra o jantar. Isso significa que ela tem mais uma sacola para carregar, além da enorme que leva a roupa do futebol e da sua própria bolsa. Se paciência fosse algo palpável, tocável, tangível, ela chutava, enchia de porrada e depois cuspia na cara.
Com toda aquela carga e nem um pingo de simpatia, ela pára na calçada, esperando o sinal ficar vermelho para os carros e, obviamente, verde para ela. Uma senhora também aguarda.
Duas meninas de, no máximo, 17 anos passam de mãos dadas: pareciam ser namoradas.
A senhora olha com desaprovação, vira para a jornalista e diz:
- Acho uma pouca vergonha. Duas meninas novas.
A jornalista olha para as meninas, olha para a velha estupefata e responde:
- Minha senhora, cuide da sua vida.
O sinal fecha pra uns, abre para outros e todos seguem seu rumo.
Acho um saco essa coisa de todo mundo ter uma opinião sobre a vida alheia e fazer questão de revelar. Acho o fim esse povo que se enche de razão e aponta o dedo para o outro, sem lembrar que esse dedo poderia- e deveria- estar apontado para o seu próprio c*.
O que me importa se as meninas são namoradas ou não? O que te importa se eu tenho tatuagem?
A verdadeira questão é: no que as minhas ou as suas escolhas pessoais mudam o mundo? A economia piora por causa disso? Do outro lado do planeta ou aqui do lado mesmo, uma criança passa fome por causa disso? Um idoso passa frio por causa disso? Não? Não mesmo? O mundo melhora? A economia se recupera, uma criança enche a pança e um idoso ganha um cobertor? Também não? Então que se foda.
Porque eu deixaria de fazer alguma coisa que eu quero fazer e que não fere os sentimentos nem os limites de ninguém só porque uns e outros desaprovam?
Interessante seria alguém olhar estupefato para um político corrupto, ou qualquer outro tipo de safado, apontar o dedo e dizer que acha uma pouca vergonha.
Porque se é pra tomar conta da vida alheia, que seja a de quem enche os bolsos com a nossa grana, que se acha impune, acima de tudo e todos.
Acho um saco.
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