Não conseguia nem piscar os olhos diante daquelas duas palavras escritas em vermelho e em tamanho maior que as demais.
“Ela virou puta? A Solange? Como assim? Era pra ela ser mestre de capoeira, ter uma academia, viver do esporte”. Ester achava aquilo tudo muito surreal.
Mas nesse momento se deu conta de como os sonhos se perdem no meio do caminho, como ficam pra trás, presos nos obstáculos.
E pensou nos seus próprios sonhos que ficaram no passado. Ester era de fato, uma menina muito sonhadora. Queria ser atriz, queria ser famosa, queria ser rica. Achava que, aos 30 anos, seria uma modelo badalada, mesmo que não tivesse altura, peso ou porte de modelo.
Queria ser tudo ao mesmo tempo, o mundo era dela, poderia ser e fazer o que quisesse. Mas de repente se viu de volta a seu apartamento apertado, às voltas com um emprego medíocre, que não gostava. “O futuro chegou rápido demais” pensou tentando não se entristecer com a constatação de que havia perdido mais tempo sonhando do que realizando. Ester não era nada do que queria ter sido. Solange não era nada do que queria ter sido. Joana também não.
" Talvez os sonhos tenham vida própria e decidam, eles mesmos, se vão ou não virar realidade", suspirou profundamente, ainda fitando aquelas duas palavras vermelhas.
O que mais instigava Ester era o rumo de cada um que deixara pra trás. Agora queria encontrar Solange, entender como tudo isso se deu pra uma menina que, há oito anos era virgem.
Era isso que tinha em mente quando refez o trajeto até a cidade vizinha, percurso que antes, conhecia como a palma da mão, já que ia todo sábado participar da roda de capoeira de mestre Tomé. " A Sol se mudou mas o mestre ainda mora no mesmo lugar" era o que tinha lhe dito Joana.
E de fato, era o mesmíssimo lugar. A casinha que era metade de madeira e metade de tijolos continuava indiferente ao tempo. " Igualzinha. Até a pintura da porta. Essa casa é a única coisa que continua a mesma. Deve ser por que casas não sonham".
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