terça-feira, 10 de junho de 2008

Como é mesmo o seu nome?

Nausea.
Não, não estou me sentindo mal, não bebi demais no fim de semana, não estou grávida.
Nausea é o nome que um casal brasileiro escolheu para batizar seu filho.
Bizarro.
Meu nome não é muito comum, até hoje só conheci uma outra Gisela. Mas me sinto confortável com meu nome, acho que combina comigo.
Mas, imagine se olhar no espelho e dar de cara com você mesmo, o sr. Capítulo.Ou dona Brochura. Ou talvez, Ferrari de Souza.
Acredito que ninguém se sinta amado com um nome desses. É a deixa perfeita para crescer rebelde. E COM causa.
Afinal, não deve ter nada pior que crescer ouvindo piadinhas por se chamar Eulindo, Delícia, Haste, Nanashara ou Seila. Aliás, tem sim. Chamar-se Xerox.
Hoje li em um jornal que um juiz sueco decidiu a favor de um casal. Eles puderam, enfim, batizar o filho com o nome de um famoso brinquedo. Lego.
Vai ser difícil, é o prenúncio de uma infância confusa, de uma criança problemática. Principalmente no natal, escrevendo cartinhas: " Querido papai noel, fui bonzinho o ano inteiro e quero ganhar uma caixa de mim mesmo".
É quase impossível saber o que se passa na cabeça de um pai ou mãe que decide colocar um nome ridículo no próprio filho. Raiva da esposa que errou os cálculos da tabelinha? Ódio do marido que não quis fazer vasectomia? Ou um simples caso de fidelidade a um produto?
Imagine o pequeno Lego na escola. O professor irritado porque o garotinho tem conversado muito com Náiki, aquele malandro, e isso não está ajudando nas suas notas. Bom seria se ele estudasse mais, a exemplo de Halls ( ou Ráuls), o CDF detestado por todos, inclusive por Chamex , o garoto novo na sala.
Soube que na Nova Zelândia tem um coitado que se chama Superman. Isso porque seus pais foram proibidos de batizá-lo com a primeira opção da lista de nomes para bebês: 4real, que em português seria algo como " de verdade" ou " na real". Será que ele teve sorte ou azar? Superman ou 4real?
Recentemente, em uma conferência em Vancouver, Canadá, David E. Kalist e Daniel Y. Lee, dois economistas, apresentaram um estudo interessante chamado " Nomes e crimes: falta de popularidade significa problemas?".
A história é a seguinte: os caras pesquisaram os dados de mais de 15 mil homens em um estado americano para descobrir se nomes incomuns estariam ligados a comportamento criminoso.
A moral da história é: sim.
Então, se você, depois de sofrer durante anos com as piadinhas por se chamar Xícara ou Indice, surtar e matar seus pais, é bem provável que seus colegas de cela se chamem Pepsi, Lápide ou Ipod.

Atualização
matéria do dia 11 de junho, no site da BBC Brasil:
Mais de quatro mil crianças na China já receberam o nome Aoyun, que significa Jogos Olímpicos – em homenagem ao evento que será sediado na capital chinesa, Pequim, em agosto.
O problema é mundial, minha gente.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Bonito lá, horrível aqui.

“A gente respeita a sua personalidade”. Foi a última coisa que ouvi antes de mudar de canal. Na TV, o comercial do novo shopping center da cidade, o maior da América Latina, dizem por aí.

Que bom. Alguém nesse País respeita minha personalidade, pensei, com um sorrisinho debochado nos lábios.

No mesmo dia, saindo de casa rumo ao dentista, encontrei a vizinha perua do 14 no corredor enquanto esperava o elevador. Sabendo que meu irmão mora na África do Sul, ela começa a conversa: “que coisa horrível está acontecendo lá na África do Sul, né?”.

“É”. Não estava afim. Confesso que geralmente não estou. Mas ela estava querendo conversa. “Ele está em que cidade?”. “Joanesburgo, exatamente onde aconteceram os incidentes”, respondi.

Veja bem, moro no primeiro andar e esse foi o preço que paguei pela preguiça de descer pelas escadas.

Ela continuou falando algo sobre racismo, preconceito, xenofobia.Foi rápido, menos de dois minutos e o elevador chegou. Dentro dele, outra surpresa: o vizinho policial, com o jornal debaixo do braço e um bocado de opiniões na ponta da língua. “Bom dia, que frio, hein? Parece até que moramos em Curitiba!”, falou, rindo sozinho.

“Bom dia” respondeu a vizinha. Eu balbuciei outro “é”. Falar o quê? Rir de quê?

Logo o elevador chegou ao térreo e segui minha vida, mas ainda deu tempo de escutar os dois vizinhos conversando sobre o assunto do momento na cidade: um estabelecimento novo proibiu a entrada de pessoas da periferia, escolhendo quem entra ou não de acordo com as roupas que elas usam.

Sim. É exatamente aquele lugar que respeita minha personalidade.

E o pior foi escutar a voz da vizinha dizendo que “tem que proibir mesmo. Esses maloqueiros só querem saber de beber e roubar, de fazer baderna”. O vizinho concordando. O porteiro se calando, meio envergonhado por não ter um terno decente para visitar o shopping novo.

Nesse momento deu vontade de voltar. Vale lembrar aqui que moro em um bairro considerado nobre e de gente rica, mesmo que grande parte dos moradores não seja tão nobre assim (mas isso é coisa pra outro artigo), nem tão rica - e nesse ponto eu me incluo. Não voltei. Estava atrasada e com o humor no dedinho do pé, coisa boa não ia ser. Também é bom esclarecer que o tal shopping classe A está em um bairro de classe C e D, ao lado de um terminal de ônibus. Era algo que poderia ser previsto.

Mas enfim, Joanesburgo e Curitiba, não seriam dois casos de preconceito? De racismo?

Porque é inaceitável na África do Sul e aqui, do nosso lado é até um exemplo a ser seguido?

Lá estão expulsando estrangeiros por estarem "roubando" seus empregos e aqui, estão expulsando consumidores por estarem "roubando" seu status de gente bacana.

Talvez um dia as pessoas entendam que apesar de algumas coisas, como cultura, serem singulares, diferentes, únicas em cada país, outras coisas são sempre iguais, tem sempre o mesmo significado.

Preconceito é uma delas. E é sempre lamentável, em qualquer parte do mundo.